Ilusionismo político

«Todos sabemos que isto não é novo, que a "representação" de algum modo liga, desde os tempos mais remotos, a política e o teatro. Mas o que é novo é que a teatralização se tornou um processo de inextrincável e cúmplice porosidade entre as esferas política e mediática, que tudo procura transformar em "acontecimentos"».

Líderes mundiais preocupados com escutas

Angela Merkel telefonou a Barack Obama para indagar se o seu telemóvel pessoal esteve ou ainda está sob escuta. Nos dias de hoje a notícia deixou de ser insólita para passar a ser encarada como uma banalidade. E se tal acontece com a líder da União Europeia, então o que dizer do que se passa em relação ao mais comum cidadão.

Culsete

Livreiro Velho, Manuel Medeiros

Jazidas de sangue

«Moçambique e Angola, após a independência, serviram de trágicos teatros de um conflito por procuração da Guerra Fria, com episódios aterradores».

Arte e fé

«Se a fé implica a aceitação de uma verdade sem passar por uma prova ou por qualquer modo de verificação racional, parece que, uma vez dada como assente essa verdade, nada impede que a partir dela funcionem mecanismos racionais e emocionais do espírito humano, podendo desencadear com frequência expressões artísticas que a têm presente e, por vezes, se aproximam do sublime ou conseguem mesmo atingi-lo».

E o povo, pá?

«Com consumidores depauperados e empresas descapitalizadas, o crescimento é impossível».

António José Seguro: proposta política

A grande novidade política do dia partiu de António José Seguro, que voltou ao discurso político activo, substantivo e fundamentado: «Precisamos de um compromisso entre gerações e entre políticas públicas. Os direitos são fundamentais numa democracia, mas esses direitos têm de corresponder a uma sustentabilidade das políticas públicas. Não podemos pôr de lado o rigor e a disciplina a que deve obedecer a gestão dos dinheiros públicos. Propomos um limite para a despesa corrente primária, porque é fundamental, sobretudo no período de ajustamento».

Santana responde a Sócrates

«"Sócrates está raivoso"».

"Filho da mãe"

«A entrevista [com Sócrates] nem sequer revela o animal feroz que atira telemóveis à cabeça dos assessores, mas um pequeno tirano de vaidade vingativa».

Rui Rio e a nódoa

O presidente da Câmara do Porto deixa a liderança da autarquia após 12 anos de mandato. Uns, apontam-lhe a falta de cosmopolitismo; outros, elogiam o rigor financeiro que permitiu equilibrar as contas. Manuel Carvalho, num artigo de opinião, sublinha que se o exemplo de Rui Rio «tivesse sido repetido em tempo certo, certamente não estaríamos a discutir a iminência de um segundo resgate». Ora, muito mais importante do que falar do segundo resgate, ainda hipotético, é recordar o primeiro resgate, esse, sim, o mais importante; e, na hora do adeus de Rui Rio, não é possível esquecer a sua maior nódoa: a forma como deixou cair Paulo Morais, que tentou acabar com a corrupção na autarquia. Em 2005, o "oriente" ganhou; esperemos que, em 2013, o mesmo tipo de interesses não voltem a ganhar com Rui Moreira... e com Manuel Pizarro.

NSA: está mais perto

As revelações de Edward Snowden estão a varrer a Europa. Depois de terem liquidado a credibilidade de Barack Obama e de terem revelado a espionagem das comunicações alemãs e francesas, só falta passar por Espanha para chegar a Portugal. Esperemos que o actual primeiro-ministro não caia no ridículo de, passados uns anos, dizer que não sabia de nada. Lá que está calado, agora, lá isso está; ele e não só.

A justiça na Ordem dos Advogados (2)

«Os grandes escritórios nunca são incomodados pelo CS devido a essas minudências. Isso é só para os advogados independentes que não se vergam aos senhores feudais da OA».

Culpa de Pobre

«Quando ouviu o estalido metálico do ferrolho da porta da cela a fechar-se respirou um pânico esmagador. Nem era tanto por causa da injustiça da sentença acabada de ouvir em que o tribunal o condenara na pena de cinco anos de prisão por um crime de furto que não tinha praticado, uma decisão iniqua a persegui-lo como mais um azar na vida. Só lhe vinha à cabeça a recordação do brilho das árvores da sua rua em dias de sol, num imenso halo de saudades. Depois instalou-se na mansa tristeza dos dias vazios, escuros».

Portugal é assim: fraqueja no momento crucial

«Quando estão em causa os poderosos, sejam angolanos ou não, o mais grave é que a justiça não se dá ao respeito, optando por genuflectir, com mais ou menos suavidade, ora promovendo investigações que não têm fim – ainda que bem intencionadas, mais parecem vulgares simulações –, ora mandando, agora, calar os procuradores do Ministério Público, num gesto cedência e de humilhação pública ímpares».

Ponte-a-pé

«O governo gostava que os portugueses se deixassem pastorear até à câmara de gás sem qualquer estrebucho».

Temporário sine die...

«A aplicação ilimitada e retroativa de cortes sobre os mesmos alvos seria, por si só, motivo para o Presidente da República pedir a fiscalização preventiva do TC. Mas Cavaco Silva já deu a entender que não o fará».

Edward Sowden: La France c'est la France

«França exige explicações aos EUA após “revelações chocantes” sobre espionagem».

A reforma de Portas

«O mais divertido, se não fosse trágico, é ler e ouvir alguns comentadores iluminados a criticar duramente a redução dos salários dos funcionários públicos e depois a acrescentar que isto só lá vai é com uma tal de "verdadeira reforma do Estado" acompanhada das estafadas "reformas estruturais"».

O olho e o argueiro

«Nos EUA, o país mais rico e poderoso de sempre, o Estado paralisou devido a zangas parlamentares. Este caso insólito exige uma reflexão acerca dos debates cívicos, lá como cá».

Estranhas emergências

«Lá do Panamá, Cavaco deixa claro que deverá evitar a fiscalização preventiva do Orçamento e Passos tem a lata de justificar os cortes em pensões e salários de 600 euros com a emergência que vivemos. Ora, com tudo mais ou menos na mesma na política dita séria, o melhor é mesmo ficar pela divina comédia socrática. Sempre dá para rir».