O DIA SEGUINTE, PARCIAL E SUJO

«A comemoração dos 50 anos do 25 de Abril, que começou mal demais com a nomeação paroquial do comissário, vai ter de tratar disto. Vai ter de passar da poesia inicial inteira e limpa para a prosa difícil e dolorosa que se seguiu. Vai ter de enfrentar a instabilidade e a violência, a descolonização e o racismo, tudo o que deixou traumas e que ainda hoje nos divide e nos desune. Não vale a pena termos ilusões de grande concórdia e unidade nacional. Já será útil dessacralizar os mitos, arejar os fantasmas e ter estas discussões com frontalidade e abertura. Com as dores da pandemia às costas e esperanças numa recuperação sanitária, social e económica, é hora de perder o mau hábito de esconder as vergonhas debaixo do tapete».

ATÉ DEPOIS DE OTELO

«Afundamos em aparências formais, cerimónias e comemorações vazias de gente, crítica e pluralidade. Estamos tão viciados no branqueamento, quase sempre por dá cá aquela palha, que vamos perdendo a noção de dignidade, resistência e perspectiva».

VIVEMOS NUM ESTADO DE DIREITO DEMOCRÁTICO?

A celebração do próximo dia 25 de Abril está manchada pelo fundamentalismo ideológico de uma espécie de Esquerda que aprovou um ajuntamento de centenas de pessoas na Assembleia da República, ignorando as regras impostas pelo estado de emergência que os seus próprios deputados também aprovaram. Entretanto, qual turba, são os mesmos que aplaudem furiosamente a perseguição de uma meia dúzia de crentes que beijaram a cruz na celebração da Páscoa.

25 de Abril de 2009

Trinta e cinco anos depois continuamos entre a liberdade e a democracia formal, entre o sentimento e o falhanço, entre a governação e o autoritarismo, entre o desemprego e a ostentação, entre a justiça e a injustiça, entre o trabalho e a fraude, entre a liberdade de imprensa e a intimidação.