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Rui Costa Pinto - Jornalista/Editor/Publisher

quarta-feira, março 21, 2018

Um livro e... A vida é melhor

No dia Mundial da Poesia é redobrada a razão para acabar o dia a ler um poema. E como é tão simples ignorar o irrelevante e marginal.

AS MOEDAS

I.
Faziam uma chinfrineira tal,
Que ele tinha de gritar para falar.
Credo, que trazes aí?
E ele corava, não dizia nada e escondia‑se.
Eram as moedas dele e nem sabia bem em que as gastar.

II.
Cada moeda lhe dizia em que queria ser gasta.
E ele já andava baralhado
Calem‑se!
Assustavam‑se, que davam saltos
E faziam aquele barulho irritante dentro do bolso.
Irra, que é demais.
Dava meia volta e apertava aquelas trinta manhosas
E lá se calavam.

III.
Decidiu gastar duas ou três moedas com os amigos mais chegados.
Mas em vez de se chegarem os amigos fugiam dele.
Dá‑me àquele!
Gritava a primeira moeda.
E ele chamou‑o,
mas o outro virou a esquina.
Já não o viu mais.

IV.
A partir de hoje, caladas!
Ele pediu muito, já andava desgastado.
A culpa andava a rondar e ele não queria dar‑lhe corda
Chispa‑te daqui!
E ela envergonhada, lá foi.
As moedas ficaram para morrer.
O que seria delas?

V.
Agarrou nas moedas e quis dá‑las ao carpinteiro.
Estava ele sentado a escrevinhar coisas na areia.
Parecia brincar, nem olhou para ele.
Trouxe‑te umas moedas.
Não teve resposta, nem quando o convidou para um bom vinho.

VI.
Abriu um buraco no chão, perto de casa.
Ficam aí quietas, nunca mais me macem.
E as moedas obedeceram e nunca mais abriram a boca.
Nunca mais foram encontradas.
Nunca mais foram gastas.

in ÊXODO, de Susana Martins

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