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Rui Costa Pinto - Jornalista/Editor/Publisher

domingo, julho 23, 2006

Crónicas do Sistema (II)


O silenciamento dos críticos e a asfixia da sociedade civil são velhas práticas conhecidas dos portugueses, que indignaram durante o fascismo e metem nojo em democracia.



CHEIRA A PASSADO

O clima de acerto de contas está a empestar cada vez mais a democracia. Magistrados, jornalistas, polícias, médicos, agricultores e sindicalistas, entre outros, têm sido alvos prioritários da maioria instalada no poder. Já tínhamos assistido à perseguição de dois dirigentes do PCP por terem participado numa manifestação à porta de São Bento. Mas o que se passou com os dois agentes da PSP é demais.

A reforma compulsiva de António Ramos e António Cartaxo, com funções de liderança na respectiva associação sindical, cheira a represália por terem tido a ousadia de criticar e afrontar quem julga que tudo pode.

O que está em causa? Duas declarações prestadas à comunicação social:
”Se o anterior primeiro-ministro [Durão Barroso] foi para Bruxelas, mas depressa este [José Sócrates] vai para o Quénia“
”O Director nacional [Mário Morgado] não interessa nem para mandar nos escuteiros “

Então, agora, já nem se pode criticar o poder político? Por mais mau gosto que possam encerrar as duas declarações, entre outras, - como se isso fosse motivo para os passar à reforma compulsiva -, o poder político devia revelar mais tolerância em relação à reivindicação e à crítica.

José Sócrates e os seus ajudantes, mesmo aqueles que nunca estiveram com ele e apenas aguardam um deslize do primeiro-ministro para lhe cair em cima, deviam ter mais respeito pela sociedade civil e por quem desempenha funções nobres em democracia. Num primeiro momento, o ataque desproporcionado aos sindicatos pode ser pagador em termos de opinião pública, mas a médio prazo o feitiço pode virar-se contra o feiticeiro.

Por mais importante ou irrelevante que possa ser para uns e para outros, o castigo dos dois agentes da PSP é um sinal de autoritarismo que cheira a passado. A lei do mais forte é um caminho possível. Mas os portugueses já deram provas que não se deixam intimidar facilmente. Mais tarde ou mais cedo, não haverá incidentes suficientes para desviar a atenção dos portugueses do essencial: as promessas eleitorais de José Sócrates e os resultados da sua governação.

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