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Rui Costa Pinto - Jornalista/Editor/Publisher

quinta-feira, março 29, 2012

O direito de inventário

«Ficar refém do passado é sempre uma imprudência. Sobretudo quando não se conhece bem esse passado. Em política, esta imprudência pode tornar-se numa temeridade.


Penso muitas vezes na lição de coragem, de lucidez e de patriotismo que Lionel Jospin deu em 1995. Perante a controversa herança política de François Mittérand, reclamou o direito de inventário. Tratava-se, como ele então disse, de uma exigência da razão, do espírito crítico e do sentido do futuro. Mas tratava-se, também, da única forma de reconciliar o Partido Socialista francês com os franceses.


Passou-se isto num memorável comício na Porte de Vincennes, em Paris, em Abril de 1995. Um ano antes, no Congresso de Lièvin, Lionel Jospin tinha ficado a falar quase sozinho. Mas o novo ciclo que verdadeiramente arrancou naquele comício levou o PS a um resultado histórico nas presidenciais, e à vitória nas legislativas de 1997, tornando Jospin primeiro-ministro de França.


Este episódio, como muitos outros semelhantes que é fácil encontrar na história política europeia das últimas décadas, devia fazer pensar os responsáveis e os militantes do PS português. Nomeadamente aqueles que, como Francisco Assis, insistem no enorme equívoco de afirmar que é mais importante que a nova liderança do PS se reconcilie com o passado recente do partido, do que com a generalidade dos portugueses.


Porque se trata de um equívoco grave. De um equívoco de seita, impróprio para um partido político maduro, plural e patriótico. De resto, só à luz da falta de pluralismo e de debate interno dos últimos anos é que este tipo de "reconciliação interna" (na verdade, mais uma mordaça) pode parecer a alguns a coisa mais natural do mundo».

Manuel Maria Carrilho in DN

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