Nunca gostei da marca do senhor Amâncio Ortega. A razão é simples: a qualidade é fraca e não me apetece contribuir para quem fez um império na sombra e rapidamente, muito rapidamente. A excelente manchete do Expresso, da semana passada, de Hugo Franco (texto) e José Ventura (Fotografias), revelou a existência de trabalho infantil, em Felgueiras, que alimenta a marca espanhola.
Uma semana depois, o semanário segue a história, como lhe compete, fazendo eco da posição dos representantes da Zara, que estão a investigar o caso como se fosse uma surpresa. A justificação dada por um dos seus responsáveis é hilariante: o trabalho ao domicílio é uma prática habitual no têxtil.
Felizmente, ainda há quem tem condições para fazer investigação jornalística. Para quem está interessado em saber mais, recomenda-se a leitura do livro de Xabier Blanco e Jesús Salgado, editado pela Esfera dos Livros, nomeadamente o capítulo III - O alinhavar do Império.
Cito apenas uma pequena passagem relativa ao lado submerso do universo Zara:
” Nestas pequenas fábricas - às vezes trata-se da casa do próprio trabalhador -, fornecem-se as peças em pedaços de tecido cortados para que sejam unidos e incorporados os botões e complementos. O número de pequenas fábricas superava em 2001 as quatrocentas, situadas na sua maioria em Portugal e Espanha (96%), mas já então se vislumbrava um aumento das mesmas em países africanos e asiáticos em detrimento dos ibéricos. Cada fábrica Inditex trabalhava com as suas próprias pequenas fábricas, e cabe a cada director negociar os preços e o controlo de qualidade do trabalho das mesmas. (...) Espremem-nos até à última gota. Daí prosperarem as fábricas clandestinas, aquelas que não fazem nada para proteger os empregados e em muitos casos obrigam-nos a coser nas suas próprias casas. (...) Como não existe relação laboral, a Inditex não paga cursos de formação aos trabalhadores destas fábricas, nem lhes compra as máquinas, nem lhes paga seguros sociais ou médicos. Não ajuda no aluguer dos locais, nem na montagem dos mesmos. Limita-se a usar o seu pessoal como se fosse seu. Para a firma são um simples instrumento, embora seja a base do seu grande êxito empresarial”.
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Rui Costa Pinto - Jornalista/Editor/Publisher
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1 comentário:
O objectivo da corja do expresso deve ser que a Zara deixe de contratar em Felgueiras aumentando ainda mais a miseria no norte de Portugal.
Mas como o povo daqui ainda lhes compra o jornal...
Não compro expresso!
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