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Rui Costa Pinto - Jornalista/Editor/Publisher

segunda-feira, maio 01, 2006

Um discurso chocante

Nos últimos dias, Isabel Jonet, responsável pelo Banco Alimentar, surgiu mais do que uma vez em programas televisivos. Registada a coincidência, importa assinalar a mensagem sofisticada e inteligente da voluntária, que foi possível constatar, mais uma vez, durante o Diga Lá Excelência (meu caro Romero, estás cada vez mais em forma).
O discurso politicamente insuportável de Isabel Jonet é surpreendente, o que, aliás, não coloca em causa a sinceridade do seu trabalho e dedicação.
O que mais impressiona é a utilização de um discurso economicista para as instituições que combatem a pobreza extrema. Como se este flagelo fosse um bem durável e transaccionável. Enfim, como se o combate à miséria tivesse que obedecer a critérios de socorro altamente competitivos.
O sonho até parece que mudou. Lembram-se da música? Agora, imaginem, se conseguirem, o Banco Alimentar a despedir voluntários porque não atingem níveis de produtividade aceitáveis. Ou porque há tantos voluntários que é preciso arrefecer a disponibilidade de quem quer ajudar.
Em vez de questionar por que razão há cada vez mais pobres, apenas passa a importar discutir a capacidade de resposta das instituições para responder a cada vez mais pobres. Um simples passo para a profissionalização da gestão das instituições de solidariedade.
Não é por acaso que Isabel Jonet, economista, diz que não lhe interessa saber se há ricos cada vez mais ricos. Pois, obviamente o que lhe interessa é saber se há cada vez mais mercado, perdão, cada vez mais pobres.
Já agora, Isabel Jonet, não se pode fazer um estudo para colocar o Banco Alimentar na bolsa de valores? Em tempo de OPA’s, quem sabe, é possível arranjar mais géneros alimentícios e mais dinheiro, com isenção fiscal, obviamente, para tratar dos pobrezinhos.

3 comentários:

Unknown disse...

Rui,
embora arrepiado com o que nos deu a ler, posso testemunhar que algo, de facto, vai mal no mundo do voluntariado e da solidariedade.
Uma amiga, diplomata, regressando por quatro anos a Lisboa, instalou-se e, divorciada e com as filhas criadas, quis ser socialmente útil e ocupar generosamente o tempo.
Procurou a Abraço, o Instituto de Apoio à Criança e outras, várias, instituições. A resposta foi, irremediavelmente, sempre a mesma:
temos voluntários a mais, não há trabalho social para tantos, etc.
Não percebo, Rui. Das duas, uma: ou não há pobreza significativa em Portugal ou até a solidariedade já está "empresarializada".
Afinal, já somos a nova Suécia, Irlanda ou Finlândia do séx. XXI e eu ainda não tinha dado por nada...

Anónimo disse...

- a canalha que (se) governa, com as suas criminosas políticas cria a miséria....
- o BANCO alimentar ajuda as cadeias de super/hiper mercados a facturarem muito mais.....
-o estado demite-se das suas funções de aplicar parte dos impostos que rouba na protecção social....
por isso este rectângulo não passa de um país de pedintes....
são os pirilampos, a cruz-vermelha, os bombeiros as diversas associações, mais as suas rifas....

joeindian disse...

Que tal fazermos um jantareco com leitão e lagosta para darmos arroz e massa aos pobrezinhos?