O livro de Manuel Maria Carrilho cita um artigo de opinião publicado no Expresso, na edição de 03.09.2005, em que o seu número dois, Nuno Gaioso Ribeiro, faz uma referência a uma coluna de opinião que fiz sobre o mensalito de Lisboa, durante a última campanha eleitoral .
1) Artigo de opinião de Nuno Gaioso Ribeiro*;
Coisas normais: o mensalito de Carmona
2) Texto integral que é objecto de citação;
Teste de credibilidade
3) E ainda um outro sobre as reacções ao escândalo que agitou a campanha eleitoral em Lisboa
Sem limites
* Coisas normais: o mensalito de Carmona
Nuno Gaioso Ribeiro
O mensalão brasileiro tem maior expressão políica, mas o mensalito de Carmona tem especial perversidade
Diz o booker prize DBC Pierre que prefere personagens infantis porque só elas permitem desvendar a normalidade ou questionar as coisas mais básicas que já nos resignámos a aceitar, sem sermos paternalistas ou idiotas. Correndo o risco de ser paternalista ou idiota, há muitas coisas normais, e questionáveis, que sucederam neste Agosto. Vamos aos factos, tal como noticiados.
O EXPRESSO de 6-8-05 relatou que Carmona Rodrigues ofereceu ao PND cargos em empresas municipais a troco de apoio eleitoral. A oferta foi recusada pelo PND, pois, nas palavras do seu presidente Manuel Monteiro, há pessoas que não se deixam comprar, pelo que sugestões de participação nossa em empresas municipais como contrapartida de apoios caem em saco roto.
Três dias depois, o Público divulgou que, face à exclusão do vereador Moreira Marques das listas do PSD, Carmona Rodrigues ofereceu a Marques, à laia de compensação, o cargo de provedor do munàcipe no próximo mandato. O social-democrata considerou o convite completamente deslocado e, atravàs do seu porta-voz, questionou o carácter políico de Carmona.
A 12 de Agosto, O Independente denunciou que o PPM apoia Carmona em troca de lugares. Em causa estava a contrapartida de Carmona Rodrigues para garantir o apoio do PPM, que passava por colocar Gonçalo da Càmara Pereira na administração da EGEAC (uma empresa municipal) e outros dois militantes do PPM em lugares de assessoria. Carmona fez questão de manter as negociações secretas e fonte da sua candidatura confirmou a tentativa, apesar da ausência de garantias da sua viabilização definitiva.
Um dia depois, enquanto que ao Público e ao Diário de Notàcias Carmona Rodrigues negou a oferta de lugares a troco de apoio do PND e do PPM - isso não à verdade, estou à vontade nessa matària -, Manuel Monteiro reforçou ao EXPRESSO as suas declarações anteriores, tal como o fez Jorge Ferreira ao DN, acrescentando que não tem hábito de fazer da mentira prática políica. Entretanto, o presidente do PPM declarou ao Público que à natural que se tenha falado disto, daquilo e daqueloutro nas negociações entre o meu partido e Carmona Rodrigues. Mas não passaram de conversas de alcofa, de cafà ... Não ficou nada escrito.
Depois de novo desmentido de Carmona ao DN de dia 14, a 18 de Agosto o mesmo jornal transcreveu as declarações de Jorge Ferreira em que este assegurou que foi sugerido um lugar numa empresa municipal, a título de compensação, e concluiu: parte-se do princàpio que as pessoas se vendem, mas algumas não.
Já no dia seguinte o enredo ganhou outra dimensão. Por um lado, o presidente do PPM confirmou ao O Independente as negociações com Carmona: sim, negociámos, mas não chegámos ao acordo que pretendàamos, conseguimos apenas dois deputados municipais. Por outro lado, o próprio Carmona, em entrevista à Sábado, contrariou o seu próprio desmentido de 13 -14 de Agosto - eis alguns excertos dessa àpica entrevista: olhe, apesar de tudo, se não houver viabilidade para isto (a inclusão de Jorge Ferreira do PND na lista à Assembleia Municipal) haverá viabilidade de outra forma. Ou: falei de outra forma de participar, algo ligado à autarquia, que poderia passar por uma consultoria ou qualquer coisa. O que aliás são coisas normais. Ou, depois de interrogado sobre o que seria essa consultoria: Qualquer coisa, não faço ideia, ficou assim no ar.
Aqui estão as coisas normais que me assolaram, bruscamente, neste Agosto: a pretensa utilização, por Carmona Rodrigues, de cargos remunerados com dinheiros públicos para conquistar apoios eleitorais. Denúncias, negações, confirmações, desmentidos, confissões e muitas trapalhadas: de tudo isto houve neste revelador enredo. E se lhe chamei mensalito não se entenda - que fique claro - que quero desvalorizar o episódio com a aposição do diminutivo. O mensalão brasileiro tem maior expressão política, à verdade, mas o mensalito de Carmona tem especial perversidade: que se saiba, nem no Brasil se lembraram de negociar cargos pagos com o erário público para conquistar votos. Sobre o mensalito, aliás, o insuspeito Rui Costa Pinto da Visão chega ao ponto de dizer que os portugueses já estão habituados a assistir às mais bizarras jogadas dos políicos, devidamente assinaladas na comunicação social, sem que o Ministàrio Público mexa uma única palha. Mas o que está a acontecer à demais. Será mesmo?
Ao escrever este texto, et pour cause, lembrei-me outra vez das palavras de Le Corbusier: à preciso dizer sempre aquilo que se vê sobretudo, e isso à o mais difàcil, à preciso ver sempre aquilo que se vê. Certamente mais olhos saberão dizer e ver, sejam eles de magistrados, políticos (que dizer do silêncio de Marques Mendes?) ou eleitores. Por mim, ainda acredito que há muitas palhas a mexer para que não nos resignemos com todas estas coisas normais - sem paternalismos nem idiotices.
Docente Universitário e Candidato na lista de Manuel Maria Carrilho
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Rui Costa Pinto - Jornalista/Editor/Publisher
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