Costa e a Cinderela

«O grande derrotado destas eleições é uma espécie de Cinderela com quem toda a gente quer casar».

Degradação do voto

«A luta de Costa pela sobrevivência política tem duas consequências estruturais. Primeiro: o simples reconhecimento de que o PS pode governar com o PCP e com o Bloco, adversários da construção europeia e do euro, vai reposicionar historicamente o partido fundado por Soares. Em segundo lugar, e mais preocupante: o líder socialista é responsável pela mais profunda degradação simbólica do ato de votar».

O país espera ganhar

«A democracia é o terreno firme onde assenta a negociação, mas é, também, o palco movediço dos equilibrismos. António Costa está lá no alto, caminhando sem rede. Agarrado à Constituição que lhe permite formar um Governo estável sem ter ganho. E de difícil legitimação política. Encurralado pela necessidade de sobreviver aos olhos do partido e do país. Na outra ponta do fio de aço estão Passos, Portas e Cavaco Silva. De mão estendida. Costa já empurrou os dois primeiros. Com o presidente dificilmente será assim. Ainda bem que Cavaco já tinha previsto tudo».

A caminho do desastre

«Parafraseando Mário Soares nos seus bons tempos, no dia em que esse governo tomar posse, nem um castiçal cá fica».

Portugal são dois

«Com o debate tão enviesado, afirmar que Portugal são dois significa chamar a atenção para a existência, apesar de tudo, de um país sensato, produtivo e laborioso, comprometido no futuro, criando já um surto de desenvolvimento. Os obstáculos levantados pelo outro Portugal são inúmeros, mas a luta continua. Ainda é cedo para determinar quem vencerá, mas o sucesso nacional depende disso».

O tamanho do ego de António Costa

«O PSD, CDS e Presidente estão preocupados com o "encosto" de António Costa à esquerda do PS. Os três receiam que Costa se tenha entusiasmado com a abertura para um governo à esquerda, depois de ter começado com um "bluff" para ganhar margem negocial junto da coligação».

Costa, a cada dia, mais cativo de si mesmo

«A ambiguidade e o tacticismo da actuação e do discurso de António Costa chocam de sobremaneira. A sua incapacidade de ter uma posição clara e consistente sobre o que quer para o país e até para o PS já se revelara de modo ostensivo na campanha eleitoral».

Se votou no dia 4...

«Vamos supor também que ontem ouviu o líder do PS, à saída da reunião com Cavaco Silva, continuar a sua revolta na Bounty e destacar a "humildade" e o "esforço de aproximação" das forças políticas de Esquerda, condições para a formação de um Executivo alternativo; que o ouviu dizer que há uma clara distinção do que são os programas partidários e as condições necessárias para viabilizar o Governo e então pensou que, mesmo que isto sejam só bombinhas de Carnaval, votar já não é o que era».

Porcos de bicicleta

«Costa pode conseguir formar Governo, mas a manobra tem custos. Se correr mal e tiver em Belém um Presidente que, tal como Sampaio fez a Santana, acione a bomba atómica, pode haver eleições antecipadas e o PS do Governo à Syriza arrisca o mesmo futuro do Pasok: a irrelevância». 

Governo à esquerda? "Seria um choque", dizem os analistas

«Os juros da dívida podem registar fortes subidas e o "rating" pode não sair de lixo».

Adeus, Passos

«Deixemo-nos de rodriguinhos. A hipótese de largar o poder incomoda a Direita, a probabilidade do Bloco ou do PCP participarem numa solução aterroriza-os».

O mundo ao contrário

«António Costa corre o risco de tropeçar na sombra da sua hiperatividade. Desobriga a coligação de esclarecer as razões da sua estranha passividade, quando urge encontrar uma solução de governo, correndo, ainda, o risco de ser visto como o único caso da III República de um secretário-geral que em vez de se tornar primeiro-ministro depois de ganhar as eleições quer ser primeiro-ministro para se manter como secretário-geral, mesmo depois de as ter perdido».

PàF!

«Enquanto a coligação de direita insiste que não há outro caminho, o PS demonstrou que há alternativas».

Só faltava mesmo a este triste país um governo de derrotados

«António Costa está louco por chegar a S. Bento, agarrar no telefone com a mão trémula e com a voz embargada dar a novidade: “Mãe, sou primeiro-ministro”».

A mesquinhez dum “caso”

«O "caso" agravou-se com a intervenção, igualmente mesquinha e baixa, do líder do PS, também ele escandalizado a partir da falha dúbia de um texto. Costa interveio, a meu ver, não por causa da putativa ofensa ao deputado do PS, mas porque odeia a independência da direcção de Informação da RTP, que quer à viva força tentar afastar. Qualquer pretexto serve».

A reforma da furgoneta

«Fez um ano sobre a entrada em vigor da reforma judicial, em plena campanha eleitoral num esquisito silêncio sobre o tema. (...) O auge do movimento de implementação da reforma traduziu-se no transporte físico dos processos de um lado para o outro, em furgonetas. (...) Nós precisávamos sim de uma planificação de investimentos nas tecnologias de informação, nos apoios especializados, na modernização do sistema. Mas até a estatística passou a ser feita ao contrário: de setembro para agosto do ano seguinte, e assim ninguém consegue fazer um balanço comparativo correto. Tão certo como a noite seguir-se ao dia, esta reforma da furgoneta não podia resolver nenhum problema».

O mundo está ao contrário?

«Se nas eleições de domingo passado o resultado tivesse sido outro e o PS tivesse ficado à frente da coligação, ninguém acredita que o PSD e o CDS não viabilizariam o Orçamento e o governo rosa. E aí teríamos de nos sujeitar à vontade da maioria, mesmo que o PS fizesse alianças com o PCP ou o Bloco».

O candidato Marcelo

«Marcelo tem todas as condições para ganhar e é um grande desafio para uma esquerda dividida. António Costa é o grande responsável por essa divisão. Quer queira, quer não, se Marcelo ganhar não tem por onde fugir ao fardo da derrota, por muita liberdade de voto que distribua».

Delírios frentistas

«Depois do vexame eleitoral, restava a Costa sair, garantindo a transição para um processo eleitoral interno que o substituísse, enquanto assegurava a governabilidade do País, permitindo a sobrevivência inicial do Governo PSD-CDS e deixando o resto do combate para o seu sucessor. Em vez disso, está a pôr em causa a estabilidade do País, agarrando-se como um tolo à derrota e lançando-se no delírio da frente de esquerda, uma coisa que não existe, como ele perceberá se alguma vez governar com o ‘apoio’ do BE e do PCP». 

António Costa: produção hollywoodesca em curso

António Costa vai conversar com o Bloco de Esquerda e com Aníbal Cavaco Silva. Certamente, não deixará de apresentar a última cartolada da produção hollywoodesca em curso: o referendo interno no PS para validar a formação de um governo à esquerda.